Ainda tenho o som da sua voz sobre o meu ombro, no Martinho d' Arcada, onde ficámos sentados, lado a lado.
Nem sei o que hei-de dizer. A falta que fica a fazer não tem medida. Curiosamente, neste momento da sua partida, lembro-me sobretudo dos seus papéis sérios. Lembro um momento genial, na Barraca, quando fez de Avarento. Ao meu lado encontrava-se um ex-presidente do Brasil que me disse que se o Raúl fosse brasileiro, seria uma estrela em glória. E lá até o foi, embora de passagem. Aqui, também, mas à dimensão portuguesa, muitas vezes pobre e trôpega. Apesar de tudo, ontem à noite, estive a ver o programa da RTP sobre a Comédia Portuguesa, e ele lá estava, reconhecido pelos mais jovens.
No final, terminava bem. O rapaz dos Contemporâneos não lhe dava a última boléia , e ele, caminhando a pé, dizia - "Cabrão".
Espero que seja essa a palavra que, neste momento, ele esteja a dizer-nos, a nós, que ficámos - Cabrões, deixaram-me partir...
Mas não é altura para ficar melancólico, ele não o desejaria, pelo contrário. Estou certa que lá onde está procurará rir da vida com o seu riso que nunca foi grotesco, nem se refugiou na sujeira, essa casa onde muitos se acolhem por facilitismo ou incompetência. Estou certa que se ri com inteligência, como daquela vez, no Brasil, quando lhe perguntaram se os portugueses não contavam anedotas sobre os brasileiros, para retribuirem a forma como os brasileiros se comportavam em relação aos portugueses, e ele respondeu, laconicamente - "Não precisa..." Ficou célebre. Neste momento, ele estará a dizer-nos, por outros motivos - "Não precisa..."
Precisa, precisa do nosso amor.
Nem sei o que hei-de dizer. A falta que fica a fazer não tem medida. Curiosamente, neste momento da sua partida, lembro-me sobretudo dos seus papéis sérios. Lembro um momento genial, na Barraca, quando fez de Avarento. Ao meu lado encontrava-se um ex-presidente do Brasil que me disse que se o Raúl fosse brasileiro, seria uma estrela em glória. E lá até o foi, embora de passagem. Aqui, também, mas à dimensão portuguesa, muitas vezes pobre e trôpega. Apesar de tudo, ontem à noite, estive a ver o programa da RTP sobre a Comédia Portuguesa, e ele lá estava, reconhecido pelos mais jovens.
No final, terminava bem. O rapaz dos Contemporâneos não lhe dava a última boléia , e ele, caminhando a pé, dizia - "Cabrão".
Espero que seja essa a palavra que, neste momento, ele esteja a dizer-nos, a nós, que ficámos - Cabrões, deixaram-me partir...
Mas não é altura para ficar melancólico, ele não o desejaria, pelo contrário. Estou certa que lá onde está procurará rir da vida com o seu riso que nunca foi grotesco, nem se refugiou na sujeira, essa casa onde muitos se acolhem por facilitismo ou incompetência. Estou certa que se ri com inteligência, como daquela vez, no Brasil, quando lhe perguntaram se os portugueses não contavam anedotas sobre os brasileiros, para retribuirem a forma como os brasileiros se comportavam em relação aos portugueses, e ele respondeu, laconicamente - "Não precisa..." Ficou célebre. Neste momento, ele estará a dizer-nos, por outros motivos - "Não precisa..."
Precisa, precisa do nosso amor.
Lídia Jorge
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